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Parte 1. Confissões de um pentecostal

Atualizado: 13 de mar. de 2019

Costumo dizer que sou pentecostal há 35 anos (minha idade atualmente), já que fui criado como filho adotivo por uma família de orientação pentecostal. Só tive duas denominações em toda a minha história: comecei na Igreja Missionária Caminho do Céu e em seis de janeiro de 2001 me vinculei à Assembleia de Deus.

Confesso que como pentecostal presenciei o eclodir de uma religião viva, dinâmica e que me apresentou um Jesus real, que “tem boca e fala”, bem diferente daquele Jesus moribundo retratado nos quadros que ficavam pendurados nas paredes de muitas casas. Sempre cantávamos: “Não creio, não creio num Cristo vencido…”. Esse Jesus, que me foi apresentado pelo Pentecostalismo, é o “meu Jesus”. Ele não é um nome perdido nas folhas da História ou unicamente aquele Jesus mencionado pelo exegeta: “[…] um judeu de pé sujo de terra, cabelo desgrenhado, feio provavelmente…” (Fala pronunciada pelo exegeta Osvaldo Luiz Ribeiro no Painel Jesus sob Pressão. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=BNDVDqcPZ3o>. Acesso em: 16 jul. 2014). Por mais que esta assertiva seja verdadeira, um pentecostal jamais se contentaria com ela apenas. Ele também é vivo, é poderoso, é o Filho de Deus que deu sua vida para nos salvar.


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Confesso que no Pentecostalismo vi pessoas simples que com pouca força fizeram grandes coisas. Gente como a gente, com problemas pessoais, com fraquezas, limitações, mas com coração sincero e aberto a uma causa maior do que elas mesmas. Vi homens e mulheres iletrados abrirem a Bíblia e pregá-la com profundidade, de maneira tocante e convincente. Vi pessoas terem suas vidas transformadas ouvindo pregadores e pregadoras assim. E aí está algo que me toca profundamente: a mudança operada pelo evangelho na vida das pessoas. Como é difícil mudar um ser humano! Mas pelos corredores de igrejas pentecostais, isto aconteceu incontáveis vezes.

Confesso que como pentecostal ouvi Deus falar! Sim, isto mesmo. Para alguns filósofos, historiadores, psicólogos e até mesmo teólogos, afirmar que “Deus falou” com alguém beira à insanidade mental. Há quem costume brincar dizendo que falar com Deus é normal, ouvir Deus falar, contudo, indica problema psicológico. Brincadeiras à parte, se há algo que é claro e firme para um pentecostal genuíno, é que Deus fala com a Igreja hoje, e fala com ele de modo particular. Deus fala através de visões, através de sonhos, através de sinais do cotidiano, através de palavras proféticas. É comum entre nós a expressão “Deus me mostrou” ou “Deus falou comigo”. Isto para nós é algo natural, que não nos causa estranheza.

Enquanto escrevo este livro, estou residindo no Rio de Janeiro. Mudei-me para este estado para trabalhar numa faculdade no município de Araruama. Antes de vir para cá, algumas semanas apenas antes de mudar, recebi um pastor em minha casa. Um amigo. Quando ele estava para sair, pedi que orasse e quando ele concluiu, disse que me via num campo verdejante, acompanhado de um varão de branco, e na visão, eu estava muito feliz. Em seguida, ele prosseguiu dizendo que Deus o fazia entender que Ele estava “levantando” um homem de fora do meu contexto, que “estenderia a mão para me ajudar” e que eu não mais permaneceria no estado do Espírito Santo, mas seria levado a outro lugar. Quando isto aconteceu, meu Diretor Acadêmico já havia sinalizado para mim a proposta de mudança. Esse pastor, meu amigo, nada sabia a respeito. Como explicar algo assim se não pelo fato de que Um Ser Divino conduzia minha história? O curioso é que meu Diretor Acadêmico é um homem que conheço há menos de um ano, não é evangélico e foi quem oportunizou minha inserção aqui na faculdade. Para um pentecostal, fatos assim não só são perfeitamente possíveis, como são até normais.

Mas nem tudo são flores no Pentecostalismo. Nosso querido Movimento Pentecostal vem enfrentando problemas sérios, idiossincráticos é verdade, mas enfrenta também problemas que são reflexos do que está acontecendo com o movimento evangélico brasileiro de um modo geral. E isto de certo modo evidencia o quão evangélico ele é, ainda que alguns cristãos reformados insistam que ele é um movimento anticristão. Vi o Pentecostalismo tornar-se “pesado” e difícil de ser suportado em seu aspecto institucional. Excesso de formalidade, obsessão por títulos eclesiásticos, culto pomposo e pregações carregadas de autoafirmação vêm marcando nossa trajetória nesse início de século. Nossa querida Assembleia de Deus insiste num modelo de liderança falido: o líder centralizando tudo em torno de si. Em nossas reuniões de obreiros, só se ouve a voz do Pastor-presidente e quando muito, a de alguém designado por ele para falar.

Como pentecostal, vi levantar-se uma geração de jovens pentecostais idiotizados e “redondamente” enganados a respeito do Evangelho.Quando eu era jovem, minha motivação era Cristo, era amá-lo, era anunciá-lo ao mundo e servi-lo. Vi, contudo, levantar-se uma geração de jovens pregadores pentecostais que passaram a encarar o púlpito pentecostal como espaço para a sua autopromoção. Seu interesse na pregação estava (e está) mais para a fama, para o dinheiro e para as viagens do que para anunciar Jesus às pessoas. Vi essa geração inspirar-se em pregadores pentecostais famosos, mas sem qualquer cultura bíblica, teológica e secular. Tive sorte! Cresci lendo teólogos pentecostais competentes e por mais que hoje possa até divergir de alguns de seus pressupostos teológicos, ainda assim me mantenho grato pois deles fui impulsionado a progredir na leitura, no aprendizado, no conhecimento da Bíblia e da Teologia.

Como obreiro pentecostal fui forjado para o trabalho, para a Seara do Mestre. Venho de uma safra de obreiros pentecostais gerados para servirem a Deus, à Igreja e ao próximo. Hoje, ser pastor tornou-se uma moda. Todo mundo é pastor e todo mundo se acha apto para ser pastor. Já reparou isto? Pregadores itinerantes que sequer prestam frequência em suas igrejas locais são levados ao pastorado para terem “maior abertura” nas igrejas. E isto sob o endosso de Pastores-presidentes e convenções assembleianas. Posiciono-me radicalmente contra esta tendência. Pastorado é cuidado, é amor ao próximo, é abnegação, é entrega. Não sou pastor, mas tive pastores de verdade e tenho pastor hoje. A meu ver, o que está acontecendo no Brasil é um desvio do verdadeiro sentido da vocação pastoral…

Como pentecostal, confesso, vi o culto pentecostal perder sua essência. A forçação de barra é tanta que presenciamos em cultos as pessoas buscarem dirigir a ação do Espírito Santo. Frases de efeito, empurra aqui, empurra ali, gritos estridentes e muita apelação. Já presenciei, muitas vezes, a ação do Espírito Santo entre nós. Num culto genuinamente pentecostal e não histérico, é comum ela acontecer como aconteceu no dia de Pentecostes: “De repente…” (At 2.2). De modo inesperado mas profundamente desejado, o Espírito Santo age, fala, distribui dons e enche os crentes. E como é bom que seja assim, pois cria em nós aquela sensação maravilhosa de que o que está acontecendo não é obra do homem, mas de Deus. Isto é culto pentecostal de fato!

Autor: Roney Cozzer

 
 
 

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